Metodologia para estudos ambientais. Epistemologia ambiental.
Marcello Polinari, Curitiba, junho 2007 Este texto é um resumo de minha tese de Doutorado em meio ambiente e desenvolvimento intitulada Praias, ambientes social e dimensionalmente gerados em Pontal do Sul, Paraná. Curitiba, UFPR, 1999. Fala que para uma nova ciência, a ambiental é necessário um novo ferramental cientifico teórico e metodológico, uma nova epistemologia. Ela tem por base o estudo das dimensões que compõe os ambientes como complexos interativos dimensionais e dinâmicos. A origem Quando comecei a fazer minha tese de Dr. queria fazer um texto de teoria e metodologia nova para um objeto novo e complexo o estudo ambiental. Porque uma nova metodologia, um novo discurso? Por que o objeto (meio ambiente) é novo e é complexo não se adequando a velhos moldes discursivos lineares, dedutivos e extremamente reducionistas. Busquei bases principalmente na lingüística de Wittgenstein, na Teoria do Casos, na epistemologia especular de Umberto Eco para formular um novo discurso teórico. Porém, mesmo com excelentes mestres, eles não aceitaram que eu produzisse uma tese só teórica um instrumento/metodologico teórico de trabalho, apenas uma ferramenta. Exigiram que eu levantasse problemas ambientais, aplicasse a feramenta. Então, coloquei o método a prova ao analisar como as sociedades com populações diversas, entendimentos diversos e interações diversas, produzem varias praias diferentes, vários ambientes praias num litoral. Por um lado confirmou a validade do instrumento de pesquisa mas, por outro, fez com que minha tese pareça apenas uma analise dos ambientes praias, o que desvaloriza seu potencial como instrumento teórico-metodológico. O método e a base teórica nela utilizado para estudar as praias pode ser aplicado a qualquer ambiente socialmente produzido. Resumo da teoria e do método de pesquisa proposto na tese. Basicamente a palavra que resume tudo que é, acontece e gera ambientes é a palavra interação. Ambientes são interações complexas e produtos de interações sociais entre populações e biomas. Ambientes, produtos humanos, não são coisas estáveis como uma pedra que um discurso cientifico tradicional da conta de defini-la e estabelecer padrões de conhecimento com ela por longo tempo. A pedra é. Já os ambientes são um acontecendo interativo no gerúndio. Os ambientes são à medida que vão ocorrendo, acontecendo, interagindo. Por serem um complexo de interações em movimento, tal como as gotas d’água numa onda, é que se diz que o objeto meio ambiente é um objeto complexo, ele não é "simples" nem relativamente estático, constante como uma rocha. Para este novo objeto da ciência as ferramentas de pesquisa produzidas para estudar coisas relativamente estáticas ou constantes, como na física newtoniana deixam muito a desejar de modo semelhante que um obturador de câmera fotográfica lento ao tentar captar um carro veloz numa corrida. Três postulados teóricos fundamentam o método de pesquisa ambiental que proponho. O primeiro vem de Wittgenstein filosofo/lingüista, ele afirma que mais que ficar "se alugando" com detalhes da percepção e da construção da linguagem é necessário ver como ela funciona, opera nos seus usos. É uma filosofia lingüística de resultados mais que de meios e elocubrações. Para falar de outros postulados é necessário ter claro que o objeto cientifico é um construto imaterial calcado em algo tangível, registrável, perceptível e ou comprovável, mas não é mais a coisa material é um construto.Toda objetivação é uma abordagem e um recorte possível e parcial para tratar de um objeto.Ver o conceito de objetivação nos dicionários da língua portuguesa e de filosofia. O segundo postulado advém da Teoria do Caos. Todos sabemos que em todo discurso científico sobre algo existem um universo de pressupostos inquestionáveis que o fundamentam e existem limites além dos quais não conseguimos passar naquela abordagem e naquele momento interativo. A teoria do caos se desenvolveu com os supercomputadores que permitiram analisar variações que pelos métodos anteriores eram desprezadas mas que mostram inconstâncias dimensionais em grandes ordens. Ou seja existem varias ordens dentro de uma ordem predominante à qual o discurso cientifico anterior se atinha. Os atratores sociais e ecologicos geram predominancias que caracterizam ambientes. Um exemplo são os das múltiplas imagens de um objeto refletidas num jogo de espelhos, as ondas de fumaça ou água que se parecem mas cada uma tem suas especificidades predominantes genéricas e mais ainda a nível de interações moleculares. Uma sopa de legumes de um cozinheiro nunca vai ser exatamente igual à próxima sopa ele cozinhar. Isto quer dizer que no discurso cientifico anterior a Teoria do Caos tratávamos os "componentes" de algo como "partes", fragmentos estanques que poderiam ser dissecadas. Na teoria do caos passamos a tratar as "partes" como dimensões com existência e características especificas. Um exemplo ambiental é um condomínio popular com dezenas de casas semelhantes, elas jamais vão ser exatamente iguais pois estão interagindo com moradores diferentes e, nas interações sociais com elas, as diferenças e especificidades se tornam ainda mais visíveis mas, para quem olhar de um avião a semelhança genérica é a que predomina. Na Teoria do Caos, cada casa do conjunto habitacional com suas características especificas e interações diversas, não é mais uma parte uniforme ou amorfa do todo, é uma dimensão com suas especificidades interativas tem características e vida própria que vai alem do genérico. O mesmo acontece com outros objetos complexos de estudo, gestão e preservação, eles passam a ser mutidimensionais e não tem mais só a "cara A e a cara B" a parte A ou a parte B, de um objeto, eles não tem mais apenas tantos pedaços, mas tem centenas de interações dinâmicas. Isso da vertigem em qualquer cientista. Mas um discurso estanque sobre algo não da conta de interações complexas e dinâmicas, não da conta de um objeto que apesar de parecer estanque é vivo, dinâmico com múltiplas dimensões interativas diversas. Deste modo para a ciência ambiental, os discursos científicos genéricos, cuja fala é no presente continuo ou no pretérito, são insuficientes para objetos pluridimensionais e dinâmicos. Enquanto na antiga ciência se buscava definir atemporalmente o objeto, principalmente pelo que ele não é, pelo seu isolamento do que ele não é dissecando-o numa bancada ou com outro equipamento e ferramental, na nova ciência ambiental dinâmica nascente busca-se partir do que o objeto é no complexo interativo do "sendo" do gerúndio das interações complexas, o objeto se abre para o universo interativo e as interações múltiplas, como num universo de pontos que moldam uma imagem se desvela dentro do possível naquela interação com o cientista, gestor, educador... O objeto de pesquisa, para uma ciência dinâmica, para a preservação, gestão, educação passa a ser a interatividade, dimensional, complexa e dinâmica e não mais um único problema ou questão estanque. O todo já não é mais feito dos retalhos do sapo dissecado e morto na mesa, ele é feito de todas as interações que fazem daquele objeto um sapo, uma floresta, uma praia, um parque, uma APA... com suas dimensões dinâmicas, vivas e interagentes. O ser é um complexo interativo dimensional, um sendo (como nas discussões de Parmênides e Heráclito) Mas que discurso cientifico será capaz de falar de múltiplas dimensões interativas dinâmicas de um objeto de preservação, gestão, pesquisa, educação... como por exemplo um bairro, um bosque urbano, uma floresta nacional, um parque, um conjunto de praias, uma cidade e seus bairros, a produção de lixo por varias classes sociais e localidades, as múltiplas interações de turistas num povoado de subsistência...??? Aqui entra o terceiro postulado que fundamenta a teoria e metodologia. Os entendimentos, percepções e discursos, possíveis de Eco O terceiro postulado vem de Umberto Eco em sem "Sobre os espelhos e outros ensaios" onde ele trata da percepção das coisas da reconstrução delas como objetos de ciência (objetivação). Lá ele da um novo sentido a palavra possível. Lá ele fala sobre o possível de ser entendido num dado momento, interação e ou conjuntura (fase dimensional)) dos relacionarmos/interações com um objeto. Assim, uma coisa existe, ela é percebida por nós com nossos sentidos, instrumentos, linguagens, condicionamentos e limitações. Ao ser percebida (trazida para si) ela já não é o objeto material é um construto este vem para o domínio da linguagem que molda o percepto em algo "falável", comunicável, pensável com o ferramental lingüístico de que dispusermos. Como o construto, a coisa objetivada não é mais ela, mas sim um construto/ferramenta lingüística operante ou operacional. Com este construto podemos falar da coisa (em si) apenas o que nos for possível para nós (para si). Aqui acabam-se as pretensões de um discurso cientifico rígido, fixo, reducionista, total atemporal falado no presente continuo ou no passado. Porém, começa a possibilidade um discurso cientifico dimensional que fala de um objeto dinâmico, multifacetado e possível de ser descrito com bastante eficácia para os que interagem com ele naquele momento, período, fase interativa complexa. Morre um discurso cientifico e nasce outro o do possível plural como quem fotografa as ondas do mar registrou e construiu um discurso possível e válido sobre elas. Mas pode continuar a fotografar, falar indefinidamente sobre este complexo interativo, atualizando o discurso. É o que chamo de ciência dimensionalmente plural, dinâmica e adequada aos estudos ambientais O resumo dos três postulados resulta que em cada momento, digo, dimensão interativa do cientista observador e dimensionamente participante do objeto, pode arrolar as dimensões do objeto que lhes são de interesse e narrar nelas o que é predominante naquele momento, naquela interação. Em outra interação ele construirá um outro discurso referente a uma outra fase interativa das dimensões que escolheu estudar e assim ele passara de um discurso cientifico monodimensional e estático para um pluridimensional, dinâmico que narra o possível de ser narrado na dimensão interativa do(s) cientista(s). Ainda haverá um corte epistemológico, ou cortes, mas eles não visarão serem reducionistas ao extremo mas sim ampliar ao Maximo as "facetas" as dimensões interativas pelo cientista eleitas que constituem o objeto de estudo. Ele vai narrar predominâncias interativas em cada dimensão eleita para estudo e vai narrar como se dão as interfaces entre estas dimensões. Esta é base teórica que proponho em minha tese para a nova epistemologia ambiental. O que muda fundamentalmente é a abordagem do pesquisador, gestor, educador que não vai mais lidar com um universo em cacos do geral e generico, mas sim com as varias dimensões que ele eleger para estudar, gerir, ensinar dentro do que lhe for possível captar e entender de seu objeto e verá como estas dimensões interagem para produzir uma dimensão maior que também tem sua própria lógica. Por exemplo em relação a uma cordilheira, um manancial, um conjunto de praias, bairros ele tentara discernir as dimensões interativas (política, economia, populações distintas, territórios, produção, solos, educação, etnias, cultura, e imaginário, tradições, demandas, aspirações, produção de poluentes, classes ou estamentos...) que lhe interassam e lhe são possíveis de perceber, ele vai buscar narrar o que predomina em cada dimensão e como esta se relaciona, se molda na interface com outras como faz a bolha de sabão sobre a placa de mármore. Vai narrar dimensões, predominâncias dimensionais e interações de interfaces dimensionais. Toda interação necessita de pré-requisitos, de fatores de atração ou repulsão para que ocorra ou não a interação. Por exemplo colocar um trapiche numa ilha facilitara que pessoas menos aventureiras cheguem a ela e moldem lá seus ambientes, antes do trapiche somente aqueles que se dispunham a ir até lá sem infraestrutura podiam moldar o bioma em seu ambiente. Deste modo gestão ambiental, cultural passa a ser um conjunto de medidas muito estudadas que visam intervir conscientemente em interações sociais, econômicas, políticas, imaginário, tradições (...) que produzem sociedade e ambientes, de modo a preservar algumas interações, incentivar outras e desincentivar as tidas como nocivas. O fornecimento ou retirada de atrativos, infra estrutura, pré-requisitos para esta ou aquela interação e dimensão da população passa a ser o principal instrumento de gestão ambiental e ou cultural. Conservar e tempo. Além disso, toda conservação cultural e ou ambiental não pode se referir somente ao passado ela necessita preservar o que é bom e virtuoso no presente e incentivar sua existência no futuro. Ou seja, necessita gerir as interações presentes e incentivar interações virtuosas no porvir. Grupos de pesquisa e trabalho. De acordo com a proposta de uma ciência pluridimensional e dinâmica, os grupos de pesquisa, trabalho e gestão se organizarão de acordo com as dimensões (e não pedaços) coletivamente eleitas para serem estudadas por aqueles que intelectualmente forem mais afeitos as dimensões interativas ( e não mais questões estanques) de cada dimensão que compõe o holos com sua lógica própria. Se num determinado estudo as interações de saúde forem importantes será necessário na equipe alguém com cabedal intelectual para isso, agricultura a mesma coisa e, ao mesmo tempo cada um ficara atento para as interfaces da dimensão que estuda com as outras e, estas interações dimensionais moldam o holos do que esta sendo, estudado, gerido ensinado... A cada dimensão quem lhe é mais afeito e cada qual terá especial atenção as interfaces e limites de sua dimensão com outras. Para concluir repito a síntese de modo metódico: arrolar e narrar dimensões, predominâncias dimensionais e interações de interfaces dimensionais. Incentivar ou desincetivar interações.
MEIO AMBIENTE METODOLOGIA





