PARANÁ CONQUISTA TERRITORIAL

Paraná espanhol ou O PARANÁ E A CONQUISTA DA IBERICA DA AMERICA DO SUL

Marcello Polinari. Curitiba, 2008

A historia do Paraná e do Brasil ficam um tanto fragmentadas se não se entender minimamente o processo ibérico de conquista das Américas. Primeiramente o que fez com que portugueses e espanhóis se lançassem em mares desconhecidos numa empreitada que somente a ida à lua se compara? O mundo medieval fechado em feudos estava ruindo desde o século X quando italianos como os irmãos Mairano se lançaram aos mares para comerciar entre Bunges, o Mediterrâneo e o oriente próximo abastecendo a logística das cruzadas fosse para cristãos, muçulmanos e quem mais comprasse deles. Comerciantes e banqueiros italianos se lançaram pelo mundo conhecido chegando até o oriente longínquo para comerciar. Portugal e Espanha se afirmavam como estados nacionais. O nascente mundo dito moderno era o mundo economicamente fundamentado no comercio de feitorias e na acumulação de metais preciosos. Esta foi a lógica da Idade Moderna e a base para organizar o Novo Mundo. Mas, há sempre um mas. Embora muitos judeus estivessem ligados aos negócios, oficialmente eram reinos cristãos como da Espanha, o de Portugal e os reinos itálicos que dominavam este comercio mundial. E ele dependia da passagem por Constantinopla para ligar oriente e ocidente. No final do século XV ocorreram dois eventos que reordenaram o mundo. Indícios de terras para além das Canárias despertaram a cobiça de varias povos, mas pela proximidade com a Igreja, Portugal e Espanha conseguiram do papa a bula Inter Coetera que dividiu o mundo a ser descoberto (descobrir significava saber o tamanho das terras das quais já se tinha noticia e delas tomar posse) entre os reinos católicos que dele eram amigos. Outra ocorrência que acelerou os investimentos nas navegações e conquistas, bancados por comerciantes e banqueiros italianos, foi a conquista de Constantinopla por muçulmanos que fecharam o portão de comercio entre o oriente e o ocidente para os reinos católicos. Mas comerciar era preciso e outras rotas foram buscar. Neste jogo internacional, franceses, ingleses, holandeses e outros contestaram o poder do papa em deixa-los de lado das conquistas do Novo Mundo e reagiram tentando tirar pedaços desta riqueza. Encontraram as terras que supunham existir e nelas os espanhóis na década de 1520 encontraram ouro e prata em abundância; encontraram uma montanha de prata em Potosí, era mais do que qualquer um poderia sonhar. Enquanto os lusitanos pouco encontraram alem de belas paisagens e índios pelados. Acontece que Potosi fica mais próxima do Oceano Pacifico que do Atlântico e os espanhóis montaram na América Central em Madre de Dios o porto oficial para controle das mercadorias que abasteciam as minas e dos metais que delas saiam. Isto envolvia uma complicada logística com caminhos híbridos que envolviam grandes barcos, oceânicos, barcos pequenos para rios, carroças, tropas de animais que se adequavam a cada trecho da longa e penosa viagem. Desde o inicio a catequizarão dos indígenas servia como forma de apacenta-los e incutir-lhes a idéia de trabalhar produzindo excedentes para viver. Mas, os lusitanos instalaram no litoral paulista uma colônia e queriam de algum modo sua parte nesta imensa riqueza em prata, nem que fosse através da troca de mercadorias. Lá se misturaram com os indígenas de modo que a palavra mameluco significava paulista e também bandeirante. Os paulistas sabendo que pelo estuário do Prata havia uma possibilidade de se chegar a Potosí não foram conquistando gradualmente o que é hoje o sul do Brasil, adotaram a praxe de fundar feitorias avançadas para comercio, mesmo que fosse para contrabando ou escravização de povos. Na fundação de Buenos Aires pilotos portugueses guiavam expedições, na conquista e fundação da Colônia de Sacramento portugueses se lançaram numa vanguarda sem etapas de conquista territorial em direção ao gargalo sul do abastecimento de Potosí. Abastecimento é a palavra chave para entender o oeste e o leste da América Latina. A Espanha tinha como oficial o abastecimento e extração de riquezas de Potosí via América Central ocupando com colônias ao sul, como Buenos Aires, para conter avidez dos portugueses e mamelucos. Entre a década de 1530 e a de 1630 os portugueses como contrabandistas e depois os padres jesuítas construíram entre Buenos Aires, São Paulo em direção ao Paraguai até o Potosí rotas de abastecimento e contrabando. Os padres construíram estancias para abastecer com gado muar e bovino e africanos escravizados as secas terras ao norte. Os portugueses e mamelucos eram chamados de peruleiros (contrabandistas principalmente judeus-portugueses) contrabandeavam tudo, inclusive africanos escravizados para as minas. Deste modo foram construídas varias rotas de abastecimento a Potosí, umas oficiais e outras não oficiais mas suportadas por serem necessárias e pela corrupção de propostos espanhóis. "Já vi este filme". Ingredientes históricos: minas de ouro e prata; necessidade de mão de obra primeiramente indígena depois africana ambas em situação servil, necessidade de abastecer com alimentos a quem se dedica apenas a mineração e se criam rotas de tropas de bois e mulas para carga e tropas de mercadorias, no roteiro das tropas fazendas de apoio (estâncias e invernadas) para dar suporte as tropas. Minas entram em decadência e isto ocorreu com Potosí na primeira metade do século XVII mas a infra-estrutura ficou, ao mesmo tempo as missões espanholas do Guairá foram derrocadas pelos mamelucos que também resultou em gado de solta ou gado de vento. Não que a historia se repita mas situações semelhantes sim. No século XVIII entre as décadas de 1720 e 1760 os portugueses, ou mamelucos, encontraram ouro nas Gerais. Novamente era necessária mão-de-obra servil infraestrutura de transporte, infra-estrutura de abastecimento alimentar, invernadas para as tropas, e aqui foi mais fácil pois já havia uma experiência disto no lado espanhol e resto da infra estrutura lá implantada antes da decadência de Potosí. O que, 200 anos depois (1530 e 1720) aconteceu no lado português é quase um fac-símile do que o antecedeu no lado espanhol. Deste modo, para entender o que aconteceu no lado português das Américas, é necessário entender este desenrolar não somente como um processo histórico lusitano ou paulista, ou paranaense, mas como parte de um complexo de conquista ibérica do que chamamos hoje de América Latina e este fez parte de um processo e avanço da economia mercantilista que decretou o fim da Idade Média.

Em resumo. A História do Paraná so pode ser pensada no contesto colonizatório da America latina e não apenas na relação do territorio ou com portugueses ou com espanhois ou com sertanistas paulistas.