SEMIÓTICA DOS MONUMENTOS (BENS HISTÓRICO/CULTURAIS

SEMIÓTICA DOS MONUMENTOS (BENS HISTÓRICO/CULTURAIS)

 

Primeiro vejamos alguns conceitos

 

“A Semiótica é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ambos os termos são derivados da palavra grega σημεῖον (sēmeion), que significa "signo", havendo, desde a antiguidade, uma disciplina médica chamada de "semiologia" que é o sinônimo de Semiótica, a ciência geral dos signos que estuda todos os fenômenos de significação e foi usada pela primeira vez em Inglês por Henry Stubbes (1670), em um sentido muito preciso, para indicar o ramo da ciência médica dedicado ao estudo da interpretação de sinais. John Locke usou os termos "semeiotike" e "semeiotics" no livro 4, capítulo 21 do Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690).

Mais abrangente que a linguística, a qual se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico - Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião, Ciência, etc”. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Semiótica)

Como em todo ramo do conhecimento, também na semótica existem vertentes de abordagem e interpretação.

Vamos usar a abordagem européia

“(...)Na vertente européia o signo assumia, a princípio, um caráter duplo, composto de dois planos complementares - a saber, a "forma" (ou "significante", aquilo que representa ou simboliza algo) e o "conteúdo" (ou "significado" do que é indicado pelo significante) - logo a semiologia seria uma ciência dupla que busca relacionar uma certa sintaxe (relativa à "forma") a uma semântica (relativa ao "conteúdo")”. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Semiótica)

                Então, tudo que existe é portador de significado para alguém, ou vários significados para várias pessoas. Uma placa de estrada significa um rumo para alguém e para outro alvo de sua arma. Os significados diferentes de cada coisa possibilitam interações, relações, usos diferentes desta coisa para varias pessoas, grupos sociais e populações humanas. Assim, resume-se o objetivo da semiótica como sendo: a ciência geral dos signos que estuda todos os fenômenos de significação.

            Fenômeno são ocorrências, acontecimentos específicos de um dado momento. Então, num dado momento (fenômeno interativo) um objeto teve este significado para uma população, mas décadas depois em outra interação teve um significado completamente diferente. Os significados são ocorrências que tem historicidade, mudam em contextos (fenômenos interativos) diversos.

            Na vertente européia da semiótica você vai ter para estudar: 1- o referente do discurso. 2- sua carga significativa como símbolo (significante potencial de entendimentos), ele é algo que é carregado de significados possíveis para varias pessoas, grupos, populações em vários momentos, (fenômenos interativos destas gentes com esta coisa). 3- as significações possíveis fenomênicas  para os vários viventes que interagem com este símbolo, com este caldeirão de significados possíveis.

            Referente do discurso, símbolo, signo, significante.

Referente é aquilo que um enunciado remete. É a coisa sobre a qual se fala, pensa e sente. Ele é o lugar central do discurso[1].

Símbolo é algo que representa o referente do discurso. É como sua foto, seu self, representando sua pessoa. O símbolo fica no lugar do referente e é, via de regra uma construção, uma idealização da coisa sobre a qual se fala, remete a coisa, mas não é igual a ela, mesmo que cientificamente pretenda ser. Quando um símbolo fica no lugar de algo ele é denominado ícone.

De forma rápida: o símbolo representa algo. O símbolo tem uma carta significante potencial que nas interações com as pessoas se transforma em conhecimento/significado. O conhecimento se dá através das linguagens como pontes fenomênicas entre as pessoas.

            Assim, tudo pode ser entendido de várias maneiras por varias pessoas e grupos em vários momentos da história. Isto atribui valores a coisa com a qual nos relacionamos e também ordena o modo de nos relacionarmos, por exemplo, com uma vassoura, uma cadeira, um templo um bosque, uma obra de arte e até com outros grupos sociais. Os preconceitos são cargas significantes que um grupo social atribui ao outro como referente de um discurso.

            Assim como pontes, os signos nos permite, fazer ligações entre a coisa da qual falamos (fofoca da vizinha ou qualquer outra coisa)  o que pensamos dela (um signo uma representação carregada de significados) e o mundo com o qual nos relacionamos disseminando assim um conhecimento, sem julgar se é falso ou verdadeiro.

            Em outro texto deste blog afirmei claramente que trabalhar com cultura é educar as massas, é uma educação informal. Produzir e gerir patrimônio histórico, artístico, cultural, natural, arqueológico, é produzir símbolos. É produzir símbolos, representantes de arcabouço ideológico, e divulgá-los pedagogicamente para a população, com sua carga significante para que a população  faça sua digestão e produza um certo consenso, um conhecimento (falso ou não sobre algo).

            Deste modo, todo objeto de patrimônio, todo “bem cultural”, é um símbolo que está no lugar de um discurso ideológico. Todo objeto de conservação pretende passar exemplos de bom, bem e belo para a população. Este objeto patrimonializado é como uma ponte ou uma carroça carregada entre os entendimentos sociais, estéticos, éticos, econômicos, filosóficos em geral, de quem produz patrimônio e o povo a ser educado nestes padrões “civilizados e civilizatórios”.

            Portanto, assim como os semiólogos estudam os signos e famílias de signos, nós, profissionais da conservação podemos estudar os bens tombados, os parques, as apa’s, as unidades de conservação, como veículos de educação popular nas mãos do Estado e como tal são símbolos de um discurso estatal  com varias cargas significantes possíveis para a população em vários contextos históricos (interações fenomênicas). Então, como uma faca, a produção e gestão de bens de conservação pode servir para vários objetivos nobres e não tão nobres de quem detém o poder.

            O ideal, e um pouco louco é juntar semiótica com a Teoria do Caos que permite ver as sociedades como pluralidade de interações. Então teríamos uma pluralidade de significados possíveis  de algo para uma pluralidade dimensões sociais e não um “povo genérico”. O que a estátua de Drumond, a Serra do Mar, a Monalisa,  significam para  agora os vários grupos sociais que fenomenicamente interagem com estes bens? Daqui a algumas horas estas mesmas coisas para estas mesmas pessoas poderá ter outro significado. Por isto é fenomênico casual, aleatório.

Marcello Polinari

Curitiba 08/10/2014  

 

 

 

Sugestões de leitura

 

DURANT, WILL. História da Filosofia. In: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultural, 1996.

ECO, Umberto. Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1989.

FOUCAULT, MICHEL. As Palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 9ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

_________. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro. Graal, 1979.

_________. Vigiar e punir. Petrópolis, Vozes, 1988.

GRAMSCI, Antonio. Literatura e vida nacional. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1978.

_____. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1989.

MAQUIAVEL, Niccolo. O Príncipe. 6 ed. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1981.

 

SEMIÓTICA: https://www.youtube.com/watch?v=NEbGr0nluHQ Capturado da internet por Marcello Polinari em 08/10/2014