NATUREZA MONUMENTALIZDA

Natureza monumentalizada e complexidade discursiva.

Marcello Polinari, Curitiba 2007

Em nossos dias, a busca de uma única resposta, uma única abordagem que defina realmente o que o objeto é tornou-se uma luta inglória. Produzir ciência é produzir um discurso que se aproxime ao máximo daquilo que percebemos de algo, é produzir um discurso fidedigno que nos permita interagir com os objetos com alguma certeza e Constancia.

Mais que falar de um objeto com toda a certeza e estar certo de que um discurso se apoderou da coisa, como num fetiche, o pensamento complexo fala das múltiplas interações de um objeto que são possíveis de serem descridas o mais fielmente possível. Assim, na relação sujeito e objeto, tudo e sempre que falamos a respeito das coisas que percebemos, falamos apenas da nossa interação, normalmente mediada pelas linguagens que nos servem de pontes entre nós, os objetos e os interlocutores de nossos discursos.

Assim mesmo que o objeto tenha uma materialidade obvia e imensa, como por exemplo, a Serra do Mar, ao produzir ciência, ao produzir conhecimento, ao lidar com o imaginário o que estamos fazendo é uma interação com este objeto e passamos a falar não mais dele, mas do conhecimento e entendimento sobre ele produzido. Não falamos mais da coisa mas da imagem dela produzida, como num espelho, e a respeito do discurso produzido sobre esta imagem/percepção Assim os objetos de conservação ambiental, histórica (...) tem no mínimo uma dupla face: a material e a discursiva a que produzimos e com a qual nos relacionamos mais intensamente. É algo como nos computadores, acontece de serem compostos de softwere e hardwere. Existe uma natureza/biomas que é material e tangível e existe uma natureza (ou bens patrimoniais) produzida como discursos e entendimentos que servem de base, de premissa para outros discursos.

Quando falamos, como numa tese, da natureza monumentalizada ou como parte do imaginário não tratamos de um ente biológico e geográfico mas sim de um produto discursivo oficial ou não, que fundamenta e serve de premissa para outros discursos políticos, econômicos, religiosos.... que justificam e normalizam interações materiais e imateriais em cada conjuntura histórica. Um objeto da natureza biológica e geológica quanto maior e mais visível for mais fundamenta os discursos e entendimentos sobre ele produzidos pela ciência e pelo imaginário popular. A grandeza material do objeto reafirma a monumentalidade do discurso e "verdade" cientifica ou popular.

Como discurso a natureza monumentalizada tem sua face imaterial (conhecimento, consensos) e sua face material como referente deste discurso. Esta face material quanto mais palpável, tangível mais confere realidade e operacionalidade social ao discurso sobre ela produzido. Por isso confunde-se a palavra monumento com o adjetivo grande, quando na verdade monumento significa memorável, mas tendo um referente discursivo material e grandioso mais memorável será para uma população discursiva.

Toda monumentalização é uma preservação material de amostras de dadas classes de objetos e também uma celebração amostral, e discursiva destes objetos. Assim ela, a preservação oficial e estatal, serve de amostra pedagogicamente utilizada para guiar o pensar, o sentir e o agir do povo em relação àquela classe de objetos e interações.

Então, há uma natureza bioma e há uma natureza apropriada e recriada no nível dos discursos que resulta em discursos primários, premissas, de outros discursos políticos, econômicos, sociais..... Neste segundo nível encontra-se a natureza amostral e oficialmente monunentalizada e a natureza recriada no imaginário popular e influenciada pela monumentalização. Como discursos monumentalizantes servem de premissas para outras interações e discursos o monumento caracteriza-se por ser principalmente um discurso fundador de outros discursos entendimentos e interações. Ambas (naturezas material e discursiva) podem ser descritas com o que e como for possível em uma dada interação do pesquisador.

Assim como existe num computador sorftwere e hardwere há um objeto material referente de discursos que não pode ser aprendido com exatidão ahistorica pelos discursos sobre ele produzidos e existem os discursos oficiais (monumentalizados) e também o imaginário popular que tem neste objeto material seu referente que lhes confere materialidade.

O que se pode dizer a respeito do objeto monumentalizado (quando já passou para o domínio dos discursos imateriais premissas de outros discursos)? Pode-se descrever o que se percebe do referente dos discursos e das interações de outros objetos e falantes sobre ele. Pode-se descrever quais discursos e interações predominam. Pode-se falar do objeto amostral e oficialmente monumentalizado ("parquisado") e seu valor em dada conjuntura e do objeto.

Assim, um monumento um referente do imaginário é um objeto multifacetado em suas interações e estas podem ser descritas e também diagnosticar qual ou quais interações entendimentos são predominantes, consensuais. Ou seja descrever as múltiplas interações de um objeto (de preservação) e narrar quais são predominantes ao invés da boa ciência que enquadra a coisa multifacetada num único discurso cientifico.

Isto quer dizer como os monumentos, parques etc., são amostras e instrumentos pedagógicos oficiais do estado para o povo, mais vale na preservação a coisa objetivizada, recriada a nível discursivo do que a própria coisa material, pois é este discurso monumental objetivizante que serve de premissa para outros discursos ambientais, políticos, culturais, econômicos.... para o povo. Mais funciona um parque ou monumento como instrumento pedagógico na mídia do que sua interação direta com a população.

Marcello Polinari maio de 07

Esta discussão se remete a Parmênides Heráclito, aos juízos de Kant, a lingüística de Wittgenstein e a teoria do caos.